Wednesday, November 08, 2006

PALAVRAS SOLTAS





















Vozes sem eco!


Hoje ao rever algumas fotos do Ribeiro do Cavalo entristeci-me … No lugar onde outrora corria um riacho, parece correr um rio de areia que a todo o momento parece resvalar pela encosta, mesmo por cima da praia do Ribeiro do Cavalo, deixa a paisagem desértica vista do mar, empobrecida, feia. O que a Natureza plantou devagarinho durante décadas, desaparece rapidamente no espaço de uma vida.
Como ficará a minha serra? Como ficará o minha praia, Ribeiro de Cavalo, se aquela areia resvalar, se as pedras caírem com mais frequência?....todos sabem do que falo claro…. Sesimbra está cortada em fatias, acontece o mesmo do lado nascente, Sesimbra é desbravada do seu melhor … da serra, da vegetação, da vida animal, do clima…Como ficará a minha terra? Como estará a minha praia no próximo ano?

Quem me sabe responder???

5-11-2006

MariaCunha




Saturday, November 04, 2006

À PROCURA DE DEUS




4-11-2006

Às vezes procuro Deus, olho para o céu, para o mar, para as pedras que piso no meu caminho, para a luz que desponta do sol, para as flores que crescem por aí, procuro na a melancolia da lua no brilho incandescente das estrelas, tudo é tão bonito deve ter sido Deus quem criou tudo isto, mas a procura é em vão não o encontro.
Sinto tão forte a sua presença que me assusta tê-lo tão perto e não o encontrar. Levanto a cabeça e sigo viagem sei que ele está por aí, olho para os rostos dos que passam na minha vida e aí sim, numa réstia de um OLHAR consigo ver Deus em ti.

Às minhas crianças, ao meu irmão e a todos os que sofrem, foram tocados por Deus.


À PROCURA DA CRIANÇA ( R. e G.)

Olho nos teus olhos em busca da criança, tu fixas os meus em busca de respostas, sou incapaz de te encontrar, mas de seguida num grito estridente despertas a minha viagem e deixas-me parar numa estação desconhecida, onde o horizonte não tem paisagem, nem miragem sequer.
Às cegas levo as mãos abertas frente ao rosto, a tua mão esgueira-se silenciosamente em busca da minha, numa batida ritmada dá-me consentimento para ver o que me cerca, a criança aproxima-se sorri e parte novamente deixando-me só naquela paragem sem paisagem, sem miragem, apenas no silêncio dos que dizem em segredo
“não vás eu estou aqui”.
Fico, espero pacientemente um novo encontro, um novo sorriso, um breve toque e fico o tempo que for preciso.



MariaCunha


Diferença

Queria fazer um poema
Que fosse a voz sentida
Do que me diz o teu olhar.
Queria gritar num verso
A aceitação desmedida
Sem mágoa, no teu pensar.
Queria soltar do meu peito
O sangue desta ferida
Que não pára de sangrar.
Queria dizer bem alto
Que diferença só é tida
Por não sabermos amar.

Mas tu criança
Acalmas todo este furor,
Porque de ti a diferença
É teres muito mais amor.


2000

Maria Cunha

Friday, November 03, 2006

RESPOSTA AO POETA “ROMEU EMBAIXADOR”

Um dia depois de acabar a carrinha da Cercizimbra onde o Sr. Romeu era motorista, eu auxiliar na altura, pediu-me para lhe escrever um poema que tinha feito e ainda não tinha tido tempo para passar para o papel. Assim, enquanto ele conduzia de volta para a escola ditou-me o poema “ Poeta Louco” escrito para um fado, segundo ele.
Ao chegar a casa lembrei o poema e escrevi um como resposta, nunca lhe cheguei a ler o meu.
Digo-o aqui e espero que ele o oiça onde quer que esteja.

Bem hajam os poetas loucos...


MESMA DOR

Tu poeta que te dizes louco,
Não sabes que ainda à pouco
Senti em mim tua dor?
Quando falavas exprimias
O que no fundo sentias
Só por falta de amor.

Não és só tu poeta querido,
Nem só tu fadista amigo
Amantes do mesmo fado.
Sou eu que choro contigo,
Também sinto e não digo
Em mim o mesmo pecado.

Carente o mundo de ternura,
Sinto também amargura
Ao ouvir-te junto à guitarra.
É como se minha voz falasse,
E eu contigo gritasse
Que esta vida é errada.

Se um dia de ti falarem,
E a mim me perguntarem
Pelo louco da roupa preta.
Com vaidade hei-de dizer,
Que me sentei a escrever
Os versos a um poeta.

(1981)

MariaCunha

POR TI!..


Por ti! Vou colocar mais cor,
Vou deixar sair o amor.
Vou partir à descoberta,
Mesmo que em parte incerta,
Vou conquistar o meu lugar.

Por ti! Vou colorir o mundo
Vou dar-lhe um tom de fundo
Onde tu vais lá estar,
Vou aprender a amar,
Vou conquistar o meu lugar.

Vou pôr o brilho que guardo
E soltar a luz que trago,
Vou melhorar o sorriso,
Entregar-me se preciso
Se os teus braços lá vão estar,
Vou conquistar o meu lugar.

Por ti! Vou esperar esse dia,
Viver na fantasia
Até poder acordar,
Por ti! Tudo pode acontecer
Vou conquistar o meu lugar
Nascer de novo Mulher.


17/10/2006

MariaCunha

Wednesday, November 01, 2006

UM SER PERFEITO


No princípio era luz e sombra, da luz surgiu um ser, da sombra surgiu outro. Deus e Lúcifer, eram assim as duas crianças, seres perfeitos, amigos, mas, estavam muito sós, então resolveram construir um mundo onde pudessem brincar.
Com poeiras cósmicas construíram o sistema solar, fizeram bolas, estrelas, estradas de passagem para que pudessem correr por entre elas. Levaram cinco dias a construir uma galáxia, no sexto dia repararam que todos eram iguais, vermelhos poeirentos, secos e não tinham cor. Então cansados, ainda resolveram dar-lhes cor e brilho com réstias de luz, sombra, gases e gelo do frio da imensa escuridão do princípio. Assim, fizeram o fogo do Sol o gelo de Saturno, a água da terra e uma imensa extensão de ar.
Ao sétimo dia descansaram. No oitavo dia admiraram a sua obra, correram na Via Láctia, sopraram o ar que existia e inventaram o vento. Só no final reparam num planeta azul, espreitaram e viram que o tinham feito de terra e água, era diferente dos outros. Lúcifer queria tirá-lo e levá-lo consigo, Deus não concordou porque se retirasse um só do seu lugar havia desequilíbrio e tudo se desmoronaria, Lúcifer retirou-se amuado.
Deus continuou a olhar aquele planeta que pouco a pouco, para além do azul da água e castanho da terra, brotava verde dos vales junto dos rios e das montanhas.
Deus olhou aquela imensidão de água azul e disse:
- faça-se um peixinho vermelho.

Assim foi, o peixinho nadava e Deus observava deliciado a sua obra. Quando Lúcifer chegou, mais zangado ficou quando viu o peixinho que Deus tinha feito e resolveu fazer um que comesse o primeiro, assim nasceu o tubarão.
Deus ficou triste mas não desistiu e cheio de vontade deu mais uma vida ao planeta e criou a gazela, Lúcifer alegre com a brincadeira deu uma gargalhada estridente e criou o Leão que depressa comeu a gazela. Mais uma vez Deus chorou mas não desistiu e de lágrima no olho criou uma ave, pequena, negra e branca que cruzava num voo serrado o azul do céu, assim nasceu a andorinha. Lúcifer mais divertido que nunca criou o Falcão que depressa comeu a andorinha.
Deus cansado e muito triste resolver dar tréguas e convidou Lúcifer a construírem uma vida em conjunto, uma que tivesse a agilidade do peixe, a resistência do tubarão, a beleza da gazela e a dureza do leão, a suavidade da andorinha e a destreza do falcão e sobretudo que fosse parecido com eles para que assim não ficassem tão sozinhos.
Lúcifer entusiasmado aceitou o desafio e com todos os ingredientes utilizados nos primeiros seres misturaram um pouco de barro e água, assim nasceu o ser humano.
Depressa viram que com todas estas características reunidas esta criatura se tornou num ser poderoso e destruidor.
Apesar de todo o amor e solidariedade que este ser trazia consigo em determinadas situações, noutras mostrava uma frieza e deslealdade inigualáveis. Depressa este ser deixou de ser a criança criada para passar a ser um adulto que não reconhecia os seus verdadeiros amigos, passou a criar e a destruir.
Desiludidos Deus e Lúcifer decidiram continuar o trabalho conjunto para aperfeiçoar este ser que era capaz das melhores e das piores proezas, para que a pureza dos primeiros anos nunca desaparecesse e a criança continuasse viva dentro deste ser que tinha sido afinal a sua melhor obra, fina, delicada, resistente, aquela que conjugava todos os bens da natureza.
Assim, desmancharam dali, montaram daqui, muito trabalharam na tentativa de aperfeiçoar esse ser, no final nasceu Hitler, Salazar, Sudam Mussain, Buch……. O Mundo continuava a ser destruído sem parar. As duas crianças incansáveis, não desistiram e um dia nasceu finalmente o ser que tudo possuía para salvar a terra de um desastre iminente, nasceu um ser com Trissomia 21, um X Frágil, um Invisual, um Surdo-mudo e outros, tantos outros. Deus sorri enternecido, Lúcifer condescendeu, finalmente tinham companhia e podiam descansar em paz. Cansados adormeceram num sono profundo e… ainda não acordaram. Não se deram conta de que o homem não reparou naqueles seres que poderiam ser a salvação do Mundo, puros cheios de beleza. O primeiro homem era tão resistente que não se deu conta de que a sua salvação estava apenas ao seu lado.
Deus e Lúcifer inocentes de como a sua obra tinha sido poderosa, ainda hoje dormem um sono profundo de séculos. …..


"AMAI-VOS UNS AOS OUTROS!..."


Maria Cunha