SESIMBRA VELHINHA

Sesimbra!
Tua face enrugada
Tua mão calejada
É de velhice teu ar,
Na areia sentada
Antiga namorada do
Velho lobo-do-mar.

Seguras em tua mão
Junto ao coração
Algumas tradições,
E olhas no vazio
Num espaço tão frio
As tuas recordações.

Continuas formosa
Ainda és vaidosa
Em festa animada,
Vais Domingo à Igreja
E quando o sol te beija
Tu ficas corada.

Velhinha namoradeira
Ainda estás solteira
Vives só a sonhar,
Finges estar radiante
Pareces contente
Sem o lobo-do-mar,
Mas isso é aldrabice!
Ouve já quem te visse
Na praia a chorar.

Sesimbra!
Tens ar de menina
Mas és tão velhinha
No rosto do povo,
Sesimbra na praia chora
O mar te namora,
Ele é muito mais novo!

Sesimbra!
O barco não vem,
Não enganas ninguém
Tu queres é casar,
És namoradeira!
Mas és a primeira
Que sabe esperar,
Na praia sentada
À espera acordada
P’lo velho lobo-do-mar.


(1980-1981)

MariaCunha

VOEI NO SONHO DE UM ANJO QUE UM DIA DEVOLVEU MINHAS ASAS!

Um dia perdi minhas asas
Quando desci à terra e decidi ficar,
Voei no sonho de um anjo
Que à terra me veio buscar.

Perdi a ternura das palavras
O mel do meu coração,
O anjo trouxe-me as asas
Devolveu-me a emoção.

Senti-me perdida no tempo
E sem asas para voar,
Fiquei presa na vida
Sem conseguir despertar.

Andei perdida no vento
Num sonho de um outro lugar,
Fiquei presa do sentimento
De não poder mais voar.

Roubada de mim já fui
No mundo sem qualquer valor,
Comandada sem tom, sem voz,
Roubada já fui de amor.

Um dia perdi minhas asas
E ninguém as escondeu,
Ficaram presas no tempo,
Um anjo mas devolveu.

Veio cheio de ternura
Entrando bem de mansinho,
Trouxe nas asas amor
E nas palavras carinho.

Deu-me a melodia divina
E um manjar de doces beijos,
Deu-me as asas de volta
Com os Sonhos e desejos.


25 de Outubro de 2006-10-27

Maria Cunha