SESIMBRA NAS ASAS DE UMA GAIVOTA

A AMIZADE
Outubro 2001

Era uma vez um menino chamado António Manuel. Tinha seis anos de idade, cabelo curto e louro e olhos azuis da cor do mar.
O Tó Manel vivia em Sesimbra junto à baía, quando terminavam as aulas, ía muitas vezes brincar para a praia. Era uma criança feliz e despreocupada, mas um pouco refilona: por tudo e por nada contestava, não acedia facilmente aos pedidos dos adultos.
Num dos primeiros dias de Maio, zangado, Tó foi para a praia e sentou-se na pedra alta, onde habitualmente ficava horas sem fim. Uma gaivota pairava sobre ele, de vez em quando, mergulhava no mar tentando capturar algum peixe para o almoço, o Tó apanhava pedrinhas da areia e tentava acertar no pobre animal.

- Eh rapaz! Que fazes tu? - disse o Manuel Jacinto, que passava na praia.
- Eu? Nada, Ti Jacinto – respondeu o Tó.
- Nada? Eu bem vi tu “amandares” pedras “caminho” da gaivota.
- Era para ver se tinha pontaria.
- Ah, pois! Mas o que tu não sabes é que quem faz mal a uma gaivota recebe o mesmo e a dobrar.
- Ora, Ti Jacinto! Não é verdade! A gaivota não sabe atirar pedras!
- Pois não, Tó... Sabes? A gaivota é um animal sagrado! Uma vez, andava eu no mar, um dos camaradas lembrou-se de “amandar um bocado de remo caminho” de uma gaivota e partiu-lhe a asa direita. Sabes o que lhe aconteceu?
- Não!
- Quando chegámos a terra, o filho desse camarada tinha caído e partido o braço direito.
- É verdade, Ti Jacinto?
- É sim, e há mais mas eu depois conto-te, agora tenho de ir.
- Onde vai, Ti Jacinto?
- Vou procurar os segredos do mar.
- Os segredos do mar?
- Claro! O homem perde, o mar leva e depois traz de volta segredos.
- Como é isso, Ti Jacinto?
- Pergunta à gaivota. Se souberes ser amigo, ela há-de dizer.
- Mas como?
- Pergunta-lhe, pergunta-lhe...! Agora tenho de ir! Adeus!
- Pergunto à gaivota? Mas como? – pensou Tó para consigo.
O Tó deixou de atirar pedras e ali ficou a olhar a gaivota, pensando como lhe poderia perguntar alguma coisa e imaginando como é que ela lhe iria responder..................( continua )